Retorno para São Paulo e meu whatsapp está cheio de mensagens sobre um tal quadro no programa Eliana da SBT, no qual um lutador de Sumo teria participado. As pessoas discutiam se aquilo era certo ou errado e o que achava daquilo tudo. Pois bem... Senta que lá vem a história...
Primeiro, veja o tal quadro, que passou no último domingo, CLICANDO AQUI!
Em maio, tive uma troca de mensagens com um produtor desse programa, que segue abaixo, na íntegra:
Produtor: "Willian, tudo bem? Sou produtor do programa Eliana, do SBT, e preciso falar com você. Me passe um telefone de contato, por favor."
Eu: [passei meu telefone] "Adiantando: Se for para participar de qualquer coisa que sacaneie meu esporte ou minha cultura, desencana."
P: "O programa é pra família. Não destrata ninguém.
O convite é pra vc participar de uma gincana e poder divulgar a luta"
Eu: "Ok. Agora me explica porque um altera de Sumô precisa ir vestido para a luta para participar de um "trava a língua" que não tem nada a ver com nada? De que modo ostentar o esporte dessa forma pode ajudar a promover a prática saudável de uma modalidade esportiva? Como um mawashi pode ser usado fora da arena sem soar ridículo?"
P: "Vc já assistiu ao quadro?"
Eu: "Vi sim. Por isso mesmo que perguntei qual o sentido de aparecer de mawashi num quadro desses..."
Assim me livrei da enrascada, pois o cara não me procurou mais.
Pois bem, o meu amigo Conrado Augusto, conhecido no meio artístico por atuar em programas de auditório e propagandas, topou a parada. Lutador de minha equipe, é detentor de alguns títulos regionais e, se não me engano, conquistou ótimas posições em alguns campeonatos brasileiros.
Mas o fato é que, como vocês viram no vídeo, provou-se novamente que tive certa razão em não atender o convite, o que me faz tecer os seguintes comentários:
1) Apesar do lutador estar utilizando um coque que imita um chonmage e a legenda durante o programa dizer que ele é um lutador profissional, ele não é um lutador de sumo profissional, ou seja, um rikishi.
Isso tem que ficar bem explicado, porque Sumo profissional é um mundo à parte. Listo aqui as diferenças:
a) NÃO existe Sumo profissional fora do Japão!
b) É IMPOSSÍVEL existir Sumo profissional fora do Japão!
c) O lutador profissional (rikishi) deve OBRIGATORIAMENTE viver em uma das cerca de 50 academias profissionais, respeitando suas regras de convívio e hierarquia.
d) O Sumo profissional é aquele que guarda e mantém todas as TRADIÇÕES, COSTUMES e RELIGIÃO tradicional do Japão e é por isso que é o esporte nacional daquele país.
É por isso que eu faço questão de nunca me fantasiar de rikishi, utilizando penteados, roupas, trejeitos que façam referência ao Sumo profissional, pois considero falta de respeito, tanto ao esporte quanto aos lutadores que um dia abdicaram das comodidades da vida comum e se sujeitaram às idiossincrasias desse mundo que é reconhecidamente duríssimo.
2) Você aí, caro(a) amigo(a), que viu o vídeo... Despertou em você curiosidade? Vontade de conhecer o Sumo? Ou de treinar? Tive ou não tive razão em responder daquela forma ao tal produtor?
Pois bem...
Pois bem...
Cada pessoa atua conforme o grau de seu comprometimento. Conrado é ator. Talvez esteja precisando do dinheiro oriundo desse tipo de trabalho. E ponto.
É por isso que ele aceitou a proposta e eu não. Meu comprometimento é somente com o esporte. Antes de tudo o mais, sou um lutador. Só faço aquilo que eu julgar benéfico ao Sumo. Se algum dia entrou algum dinheiro de alguma aparição minha por conta de meu esporte, esse valor foi totalmente revertido para minha equipe ou para a Seleção Brasileira de Sumo.
Aos lutadores, digo que é preciso saber escolher, colocando numa balança o que é importante para você. Neste texto, mostrei duas vias. E aí? Qual a mais bacana?
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