quinta-feira, 8 de agosto de 2013

WG 2013 (3) - Minhas impressões!

Foi a minha primeira vez como técnico. Como não lutei, tive muito tempo para ver, analisar e tirar conclusões sobre nossos atletas, IFS e o World Games.

1 - WORLD GAMES
O World Games é a segunda competição multidisciplinar do mundo. Só fica atrás dos Jogos Olímpicos. São 31 modalidades esportivas e mais de 4 mil atletas de 120 países! Não só a cidade, mas toda a nação é mobilizada para fazer este baita evento.


A competição de Sumo é especialmente difícil: somente atletas convidados pela IFS, conforme os resultados obtidos nos últimos mundiais, Combat Games e World Games; e atletas escolhidos a dedo pelas federações continentais podem participar, ou seja, não existem retardatários. Para se ter ideia de como é difícil participar deste evento, eu mesmo fiquei de fora, mesmo depois de conquistar o décimo primeiro título nacional neste ano. Nossos atletas são então verdadeiros vencedores por estarem ali representando o Brasil. Uma honra sem igual!


O que me arrepia de vergonha é o fato da imprensa brasileira simplesmente ignorar evento de tal importância. Uma grande tristeza. Nosso país está sendo representado por 74 atletas e já foram conquistadas várias medalhas! E não aparece nem uma notinha em lugar algum!

2 - CALI, COLÔMBIA


Voltei apaixonado por Cali. Na verdade, pelo povo Caleño. Nunca em uma competição internacional tivemos um público tão participativo e quente. Nunca tivemos contato com um povo tão educado e agradável! Foi um verdadeiro exemplo de como tratar as pessoas e fazer um evento genial. Os voluntários e policiais envolvidos foram prestativos e gentis ao extremo.

Nós sabemos muito bem como o brasileiro é. Às vésperas da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, fico com uma certa dúvida: Será que conseguiremos ser tão competentes como os Caleños?

3 - SELEÇÃO BRASILEIRA MASCULINA
Todos os nossos atletas saíram com pelo menos uma vitória. Isso é muito bom, tendo em vista que tivemos três atletas estreantes na Seleção Brasileira, em uma competição de altíssimo nível, mais elevado que o Campeonato Mundial.

O que falta para nossos atletas masculinos é força. Creio que treinos direcionados a competidores de alto nível, como o preparo físico feito pela equipe venezuelana, possam possam ajudar muito. É bastante claro que, embora tecnicamente bons, nossos atletas acabam por levar grande desvantagem física diante daqueles que treinam diariamente.


Nossas dificuldades são conciliar estudos e trabalho ao treino; ter regularidade nos treinamentos; e ter instrutor físico que dê treino específico ao ganho de força aplicada à luta. Percebo que em muitas academias de musculação, os instrutores dão treinos destinados à hipertrofia dos membros superiores e emagrecimento com objetivo meramente estético, o que não é o interessante para o lutador. Nós precisamos é ter explosão, força e elasticidade. 

Outro ponto que destaco é a repercussão psicológica na luta. No Sumo, muito da personalidade do lutador reflete sobre a forma como se luta: se ele é indeciso, sua luta é indecisa, ou seja, é hesitante em atacar ou defender; se é demasiadamente confiante, acaba por cometer erros relacionados ao descuido em finalizar a luta, por exemplo. Creio que, concomitante ao treino físico, é preciso ter trabalho constante com a personalidade do lutador. 

É possível fazer alguém tímido ser mais despachado? Ou alguém mais pacífico ser mais agressivo? Ou um indeciso ser mais decidido? Não sei se é possível mudar a cabeça de uma pessoa, mas tenho a impressão que não há nada que não possa ser mudado quando se quer mudar. 

Ao mesmo tempo, percebo que essas são minhas falhas como técnico de uma equipe. Sou dedicado, vejo bem a luta e sei passar a técnica (graças ao ensinamento do Sensei Kuroda), mas confesso que não tenho conhecimento em Educação Física para otimizar o treino físico de nossos atletas, bem como em meios para a supressão ou inserção de atributos psicológicos - se é que esses são termos válidos - tais como confiança, agressividade, tranquilidade, passividade etc. 

Enfim... A participação da Seleção Brasileira masculina foi muito boa, representando bem o país e longe demais de me deixar desapontado, mas o fato de voltarmos sem medalhas dá um certo gostinho amargo. 

4 - A SELEÇÃO BRASILEIRA FEMININA
A Seleção Brasileira Feminina se firma como referência mundial da modalidade. Os expressivos resultados de Jaqueline e Luciana somam-se aos bons resultados obtidos nos últimos mundiais. Fernanda foi muito bem tanto em seu peso como no absoluto. Natany apesar de sua estrutura física não permitir que ela permaneça entre as pesadas conquistou uma boa vitória. Apesar da baixa carga de treino semanal (mesmo problema da seleção masculina), tanto tecnicamente como fisicamente estão afiadas


Percebo que a dedicação das mulheres brasileiras dentro e fora do Dohyo, lutando ou dando suporte é uma das chaves para o sucesso do Sumo feminino. Em alguns casos a força de vontade e o sacrifício delas é maior que a dos homens. Destaco a dedicação não apenas de Fernanda, Janaína, Luciana e Natany, mas também de Mari Fukumori, Cida Lima, Ana Cláudia, Daniele Oliveira, Clara Nekozuka, Valderez Kiyota, Juliana Medeiros, Jaqueline Cruz, Dorotéia Costa e tantas outras fortes mulheres bastante ativas no cenário do Sumo no Brasil.

Outra razão de sucesso é a dedicação dos técnicos, em especial de Kioshi Shimazaki da equipe São Paulo, que na última década se dedicou com maior afinco ao treinamento do Sumo feminino, em especial de Fernanda Costa (ex-campeã mundial), Fernanda e Luciana. Em Londrina, Cássio e Cassiano Gomes, conduzem com rigor e disciplina a forte equipe feminina do Paraná; em Salto, Takehisa Kiyota e Makoto Higashi cuidam da turma da Norte; Cida Lima em Guaianazes; Masaaki Tsutsumi em Capão Bonito; e Yoshihiro Sakashita em Itapetininga.

O apoio desses agentes em uma modalidade que até pouco tempo atrás era impensável foi uma aposta que hoje nos rende ótimos frutos.

As garotas da América do Sul!

A atuação brilhante de nossas atletas e também das venezuelanas, como veremos abaixo, chamou a atenção de outros técnicos e atletas. Surgiu ainda a ideia de fazermos um training camp no Brasil, com duração de uma semana com atletas de vários países. Quem sabe, né...

5 - ATUAÇÃO DA SELEÇÃO VENEZUELANA
A ótima atuação da Seleção Venezuelana de Sumo tanto masculina como feminina, que conquistou uma medalha de bronze com Maria Yemaya e um quarto lugar com Ofélia Barrios, também é fato que nos engrandece muito. Antes do World Games uma grande equipe composta pela Seleção principal, 4 sparrings, 3 árbitros e um técnico, excelente preparador físico, fizeram quase vinte dias de concentração em São Paulo, por considerarem o Sumo brasileiro referência para o desenvolvimento do esporte em seu país.


Nossa atuação no Sumo venezuelano começou com os treinos que fizemos antes do Sulamericano 2012 no Ginásio do Bom Retiro; passou pela minha ida com Luciana à Maracay realizar um seminário; e teve seu ápice nesse ótimo Gashoku. Eles tiveram a sorte de coincidir com o retorno de nosso grande amigo e ex-lutador profissional Giuliano Tussato, que se afeiçoou  a eles e se dedicou ao máximo em ajudá-los. O esforço da FEVESUMO - Federação Venezuelana de Sumo - em criar laços firmes com o Governo Bolivariano e popularizar o Sumo é impressionante.

6 - IFS
A forma como a IFS atua na organização da prática do esporte no mundo é muito boa. O esforço de seus agentes é latente, mas tenho que apontar que o maior problema continua sendo a arbitragem. Tenho a impressão que aqui no Brasil arbitramos melhor.

Novamente verificamos vários casos de aplicação de golpes proibidos como o Kawazugake e o Harite. A luta mais bizarra foi a do lutador búlgaro que nitidamente enforcou o adversário, gerando protestos por parte de todos que viam. Os juízes se mantiveram inertes.

Creio que a aplicação adequada das regras é passo fundamental para a prática saudável do esporte. E é por isso que começamos a produzir cartilhas e fizemos o primeiro curso de arbitragem neste ano. Estamos trabalhando para não pagar o mico de cometer tantos erros grosseiros. 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

WG 2013 (2): Os dias em que o mundo foi nosso

Nunca houve público tão carinhoso e amigos da Seleção Brasileira de Sumo. Bastava um atleta brasileiro ser chamado para o ginásio lotadíssimo ir abaixo, gritando "Brasil, Brasil, Brasil!".  E foi empurrado por essa torcida especial que conquistamos duas inéditas medalhas de prata, uma no peso leve, por Luciana Watanabe e outra no Absoluto (sem limite de peso) por Janaína Silva. Um saldo positivasso para nosso país e a sensação de que durante esses dias de competição, o mundo foi nosso!

Yoshihiro Higuchi, Luciana Watanabe, Ricardo Aoyama, Fernanda Rojas, Mário Frabetti, Cássio Gomes, Natany Brizola, Janaína Silva e Cristiano Mori - da esquerda para a direita - formaram a Seleção Brasileira de Sumo para o World Games 2013! Os dois penetras ao fundo não sei quem são...

Segue o resumo de como foram nossos atletas:

Luciana Watanabe (Leve e Absoluto)
Luciana venceu a atleta americana Soesanto e duas fortes concorrentes russas (Iarshevich e a atual campeã européia Koval)  para chegar à final. A torcida colombiana estava toda à favor de Luciana! Perdeu por pouco para a atleta Iwamoto do Japão. Coloca de vez seu nome como uma das melhores atletas do mundo e conquista um feito histórico para o Brasil! No absoluto, perdeu para Chen de Taipei.

Luciana retribuindo o carinho do público

Luciana Watanabe (Brasil - 2ª Colocada), Vera Koval (Rússia - 3ª Colocada) e Yukina Iwamoto (Japão - Campeã) 


Cristiano Mori (Leve e Absoluto)
Cris venceu o forte e grande concorrente egípcio (certamente durante a competição tinha muito mais que 85 kg) e perdeu para o russo Altyev (que ficou em segundo lugar). Na repescagem, venceu o veterano Wakita da argentina mas acabou parando no polonês Rozum. No absoluto, perdeu para o ucraniano Varesiuk.

Fernanda Rojas (Médio e Absoluto)
Fernanda chegou às semi-finais embaladíssima depois de vencer a polonesa Rozum e a japonesa Asano. Mas acabou perdendo para a ucraniana Maksymenko. Na repescagem, perdeu para a venezuelana Ofélia Barrios. No absoluto, chegou às quartas de final, perdendo para Harteveld da Holanda.

Cássio Gomes (Médio e Absoluto)
Cássio venceu o americano Daniel e perdeu para o ucraniano Kozliatin. Na repescagem, acabou perdendo para o japonês Ito, que fora campeão na última edição do World Games. No absoluto, perdeu para o russo Altyev.

Ricardo Aoyama (Médio e Absoluto)
Ricardo perdeu para o húngaro Kalmar e depois na repescagem para o ucraniano Iermakov.  No absoluto venceu o americano Gneiting e perdeu para o mongol Retsendorj.

Yoshihiro Higuchi (Médio e Absoluto)
Yoshi perdeu para o mongol Ochirikuu e para o russo Kaziev na repescagem. No absoluto, venceu Wakita da Argentina e perdeu para o japonês Kawaguchi.

Natany Brizola (Pesado e Absoluto)
Natany venceu a americana Rivas e na sequência acabou perdendo para a russa Zhigalova, praticamente imbatível nos últimos anos. Na repescagem perdeu para a ex-campeã mundial Krzemien da Polônia. No absoluto, perdeu para Kovalenko da Rússia.

Janaína Silva (Pesado e Absoluto)
Na competição por pesos, Janaína não teve sorte. Pegou a japonesa Ueta (campeã mundial em 2012) logo na primeira luta e acabou perdendo. Não chegou à repescagem. No domingo, entretanto, virou a cena: venceu lutadoras fortíssimas, entre elas a húngara Makai e a polonesa Krzemien; e perdeu somente na final para a russa Zhigalova (multicampeã mundial), conquistando a prata inédita para o Brasil! Um feito histórico! De quebra tornou-se um dos xodós do público, por ser bem menor que suas adversárias. Foi ovacionada, deu entrevista para a TV e distribuiu autógrafos!




Mário Frabetti (Pesado e Absoluto)
Marião venceu o gigante Petersen e perdeu para o ucraniano Veresiuk. Na repescagem venceu o venezuelano Juan Castro e perdeu para o mongol Gankhuyag, que fora campeão no dia seguinte na competição sem limite de peso. No absoluto, com lesão no pé, perdeu o gigante russo Alan Karaev.