terça-feira, 27 de maio de 2008

GOGATSU BASHO e O MAIOR BABACA DO SUMÔ

Neste domingo terminou o torneio de maio do Oozumo. Se surgirem termos que você não conhece, à direita do blog tem um glossário. Vejam os resultados:


Makuuchi
Yuusho: Kotooshu (14-1)
Shikunsho: Aminishiki (10-5)
Kantoosho:Kisenosato (10-5) e Toyonoshima (11-4)
Ginoosho: Ama (9-6)

Jyuryo: Chiyohakuhou (13-2)

Makushita: Tamaasuka (7-0)
Sandanme: Ogata (7-0)
Jonidan: Homarefuji (7-0)
Jonokuchi: Yashiki (7-0)

Quanto aos nossos amigos brasileiros:

Kaisei (5-2)
Brilhante kachikoshi! Continue assim!

Takaazuma (3-4)
Infelizmente foi makekoshi, mas foi por pouco!

Kainohama (4-1-2)
Deixou de lutar duas lutas por conta de uma contusão, mas garantiu o kachikoshi.

Agora sim, aos comentários... Acredito que a cena mais marcante desse basho foi a luta entre Asashoryu e Hakuhou no último dia do torneio. Todos sabem que eu odeio o Asashoryu e minha opinião é a de que ele deveria ser obrigado a se aposentar pelo Nihon Sumo Kyokai. Novamente ele ultrapassou os limites...


Na luta, Assashoryu já havia ganhado por Hikiotoshi mas, demostrando uma atitude totalmente contrária ao espírito do Sumo, empurra Hakuho que já estava com as duas mãos no chão. A cena, a meu ver ridícula, pode ser vista:

Isso é lá uma atitude que um Yokozuna pode ter? Pois bem, até aí eu já estava acostumado com as malcriações desse lutador, mas a atitude de Hakuho também não foi das melhores... Além de dar uma ombrada, ficou encarando Asashoryu! Tudo isso em cima do Dohyo!

Como pode a associação japonesa ver dois Yokozuna profanarem assim o Dohyo, que é um solo sagrado, e ficar de braços cruzados? Não tenho preconceito nenhum contra lutadores mongóis ou estrangeiros, ora, grandes amigos meus, brasileiríssimos, estão lá, mas sinceramente... Tem alguns passando muito do limite.

Pois é, já elegi: ASASHORYU, O MAIOR BABACA DO SUMO!

Abraços!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

CAMPEONATO REGIONAL ABC

Neste domingo tivemos o anual Campeonato Regional do ABC, que aconteceu no Parque Prefeito Celso Daniel em Santo André!

Para começar, tivemos uma belíssima surpresa! A equipe da casa reformou o Dohyo e cobriu com um telhado fixo seu entorno. Dá-lhe ABC! Colhendo o sucesso de tanto esforço! Bom... Ficou ótimo. Eu particularmente gostava do dohyo de tijolinhos vermelhos, mas era certo que eu estava contra a maioria...
[Sr. Shinichi Kato realizando a cerimônia]
Antes do campeonato o Dohyo foi devidamente benzido e inaugurado com um ritual Xintoísta, ministrado pelo Sr. Shinichi Kato.

[Criançada também assistiu atenta a cerimônia]

Outros destaques do campeonato foram a meu ver:

1 - PICADINHOOOO!!! Não poderia deixar de falar do já lendário picadinho servido no almoço. Trata-se de um prato único e mágico, que só é possível comer nesse torneio. As mães, irmãs, esposas e namoradas de atletas, além de colaboradores e diretores da associação se reúnem para fazê-lo, o que dá um toque todo especial. (Preciso parar com essa mania de prestar tanta atenção na comida... eheheh)


[Os quatro representantes da categoria Mirim "D"...]


[...lutaram muito bem!]

2 - Tivemos atletas da categoria Mirim "D"! Logo no início da manhã reuniram-se atletas de até 7 anos de idade e demonstraram muita garra e força de vontade! Muito legal!

3 - Vieram alguns atletas da Sudoeste, liderados por Yugo Fukushima. Na minha opinião, o intercâmbio é importantíssimo e deve ser incentivado!

4 - Duas equipes de TV vieram prestigiar o evento! A TV Sesc está fazendo um programa com a Luciana Watanabe e a TV da Faculdade de Rádio e TV da FAAP veio gravar um especial sobre Sumo.

5 - Fechando o campeonato, aconteceu o Warizumo, que são lutas realizadas em eventos especiais, simbolizando as categorias superiores do Oozumo: Maegashira, Komusubi, Sekiwake e Oozeki. Dentre os lutadores, um veterano campeão: foi um grande prazer ver o Sr. Kiyota novamente de mawashi!

[Atletas do feminino mirim, concentradas no shikiri]


[Luta disputadíssima no feminino absoluto]



[Uwatenage!]

Bom... Não poderia deixar de comentar aqui o "couro" que tomei na final da categoria Adulto... Depois de uma luta acirrada, fui à lona com um Kainahineri, aplicado por... Meu irmão, Yoshihiro Higuchi. Não ficaria tão mal se fosse outra pessoa heim... Ok, mas na próxima ele leva! Eeheheheh.


[O parque prefeito Celso Daniel é belíssimo!]

É isso! Até a próxima.

sábado, 24 de maio de 2008

TREINO NO BOM RETIRO EM 2005

As fotos que seguem são memoráveis! Foram gentilmente cedidas por Itiro Sugano e trazem imagens de um treino bastante especial, pouco antes do mundial de 2005.

[Fujishiro e Sugano]


[Butsukari Keiko: Estou empurrando Kuroda, observado por Ikemori, Fujishiro e Sugano]


Estávamos Eu, Geraldo Fujishiro e Cláudio Ikemori preparando para o mundial na Alemanha e vieram também Ken Ichi Morimoto, Yoshihiro Higuchi, Yoshinobu Kuroda e Ricardo Sugano. Quanto às meninas estavam presentes Luciana Watanabe, Sanuza Chagas e Fernanda Pereira.


[Butsukari Keiko: Fernanda empurrando Sugano]


[Kuroda lutando com Sugano]


Para se ter idéia de como o nível estava elevado, basta mostrar quem são esses lutadores:

Cláudio Ikemori: Campeão Mundial na categoria peso leve em 2003 e vice em 2004;
Fernanda Pereira: Campeã Mundial na categoria pesado em 2004, vice em 2003 e terceira colocada em 2002;
Geraldo Fujishiro: Ex-lutador profissional e terceiro colocado na categoria absoluto no Mundial de 2003;
Ken Ichi Morimoto: Veterano lutador, quase lendário! Quem já o viu lutar sabe como é surpreendente!
Luciana Watanabe: Hepta campeã brasileira peso leve;
Ricardo Sugano: Terceiro colocado no Mundial Juvenil de 2003 e atualmente lutando profissionalmente;
Sanuza Chagas: Terceira colocada categoria absoluta no mundial de 2001;
Takahiro Higuchi: terceiro colocado no mundial juvenil de 1999 no peso médio
Yoshihiro Higuchi: Atleta da seleção juvenil de 2003 e terceiro colocado peso médio nos brasileiros de 2006 e 2007;
Yoshinobu Kuroda: Ex-lutador profissional, um dos três brasileiros que conseguiram virar Sekitori.

[Imagens de um treino especial!]

Pois é... Como se vê, só casca grossa! Bons tempos!

domingo, 18 de maio de 2008

APRESENTAÇÃO NO SESC TAUBATÉ

[Pose na entrada do SESC: acho que o principal motivo da falta de público foram as letras pretas emfundo roxo... Assim ninguém enxerga...]


No dia 20 de maio fizemos uma apresentação de Sumo no SESC da cidade de Taubaté.

[Mokuso: Meditação antes da apresentação]



[Ricardo puxou um aquecimento básico]


[Demonstrando um golpe proibido. Essa doeu...]


Participaram eu, Luciana Watanabe e Ricardo Aoyama e contamos com a ajuda imprescindível de Andrea. Foi bastante divertido, conhecemos pessoas ótimas e as crianças se animaram bastante para lutar.


É ótimo trabalhar com crianças, pois elas nunca se cansam e estão sempre abertas a aprender algo novo. Acredito que às vezes temos mais a aprender com elas do que a ensinar.


Infelizmente tivemos alguns imprevistos, como a falta de microfone e o pouco público, mas o saldo foi positivo!


[Fizemos bons amigos em Taubaté!]

É isso.

Até mais.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Mito ou Verdade?

[Chanko nabe, a comida dos lutadores!]


VERDADE. Os lutadores de Sumo profissionais tem uma alimentação especial para engordar.
Sim, eles se alimentam para ganhar peso e tamanho. E tem ainda um prato especial chamado Chanko Nabe, mas esse acepipe é ultra light, pois é apenas uma sopa de legumes. O que engorda mesmo é a quantidade que eles comem.

MITO. Os lutadores amadores também tem uma alimentação especial para engordar.
Os lutadores amadores têm a alimentação normal.

[Magrinho ou gordinho? Tanto faz. Todos podem praticar Sumo!]
MITO. Precisa ser gordo para lutar Sumo.
Não precisa ser gordo para praticar.

VERDADE. O Sumo faz bem para a saúde.
Assim como qualquer modalidade esportiva, o Sumo traz benefícios à saúde.

MITO. Precisa ter determinado peso e altura para ingressar no Sumo profissional.
Até pouco tempo atrás, precisava ter 1,75 m e 75 kg para entrar no Sumo profissional, mas hoje é aberto a pessoas que não atinjam esse limite, desde que se submetam a teste físico.

VERDADE. Lutar Sumo emagrece.
Quando uma pessoa mais gordinha começa a treinar, num primeiro momento ela emagrece.

[Limpar poposão de lutador de Sumo? Que idéia, heim...]


MITO. A profissão melhor remunerada no Japão é limpar o "poposão" de lutador de Sumo.
Não sei quem é que inventou essa idiotice, mas lá vai com todas as letras: ESSA PROFISSÃO NÃO EXISTE! TRATA-SE DE UMA LENDA URBANA!

VERDADE. Somente os sessenta melhores lutadores recebem salário no Sumo profissional.
Pois é... A vida é dura né. Dos quase 800 lutadores profissionais, somente os que estão no topo do ranking recebem salário.

VERDADE. O Brasil tem atletas de 4 a 60 anos.
Nos campeonatos regionais existe a categoria "Mirim C", que abriga atletas de até 7 anos; e no campeonato veterano em São Paulo, há a participação de veteranos com mais de 60 anos.

[Cláudio Ikemori no topo do pódio]

VERDADE. O Brasil já foi campeão mundial.
Sim, duas vezes, com Cláudio Ikemori no peso leve em 2004 e Fernanda Pereira, no feminino peso pesado em 2005.

[Takaazuma, nosso amigo Cristiano Souza, é um dos lutadores extrangeiros no Sumo profissional]

MITO. O Sumo é para japoneses.
No Brasil temos mais lutadores sem nenhuma ascendência japonesa; já são 45 países participando do campeonato mundial; no Sumo profissional, os dois yokozuna são mongóis.

[Kotooushu, à direita, aplicando um Kotenage]

VERDADE. No Sumo existem mais de 90 golpes.
Sim, e estão listados no site oficial da Associação Japonesa de Sumo (Veja na lista de links ao lado).



quarta-feira, 14 de maio de 2008

AKIMATSURI 2008

[Criançada na expectativa antes da apresentação]

Acho que estava devendo um comentário sobre a apresentação durante o Akimatsuri deste ano, mas é que tivemos alguns problemas muito chatos.

Para melhor mostrar o que aconteceu, segue na íntegra a carta que enviei à organização do evento:

[Pois é... quem leu, leu.]


[Final de uma apresentação corrida e conturbada]

terça-feira, 13 de maio de 2008

DOCUMENTÁRIO - KAISEI

[Montagem feita pela alemã Martina Lanau]


Nosso grande amigo KAISEI ICHIRO (Ricardo Sugano) foi tema de um belíssimo documentário entitulado:

Mezase Hakuhou Asashouryu
~ Gaikokujinrikishi no mita tomozunabeya ~


Veiculado no FUJI TV (uma das maiores redes de televisão japonesa) no dia 24 de fevereiro de 2008.

Com quase uma hora de duração, o programa acompanhou por 600 dias a carreira do lutador, desde que saiu aqui do Brasil até atingir o Makushita, mostrando como vem vencendo os dramas e as dificuldades dentro e fora do dohyo.

Depois de assistir o documentário percebi que, apesar de belíssimo, cometia uma grande injustiça, que procurarei de certa forma consertar aqui.

Não se falou em momento algum da importâcia da presença do pai de Ricardo, ITIRO SUGANO, em sua vida como lutador.

Foi ele quem o trouxe aos treinos e o acompanhava em todos os campeonatos. Eu não me lembro de nenhum evento que Ricardo tenha participado que não estivesse ali seu pai dando apoio.

[Na partida para o Japão: Ricardo Sugano e Itiro Sugano]
Todos sabem que acho fundamental a participação dos pais na vida de um atleta. Em muitas ocasiões, defendendo essa minha tese, usava ele como exemplo: - Tá vendo, Ricardo está ficando forte porque seu pai sempre está junto!

É isso.

Abraços!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

SUMOTORIS LENDÁRIOS: MAINOUMI


Nada de Asashouryu, Hakuhou, Takanohana, Musashimaru ou Akebono. Para mim, o maior lutador de Sumo é Mainoumi.

Seu verdadeiro nome era Nagao Shuhei, estudante de ciências econômicas na Nihon University (a tão famosa Nichidai). Já tinha conquistado importantes vitórias nos campeonatos nacionais, mas sua vontade era tornar-se professor. Resolveu entrar no Oozumo em homenagem a um grande amigo que nutria o sonho de ser lutador de sumo, mas que morrera sem ao menos poder tentar realizar a vontade.

Acontece que Shuhei não tinha os requisitos mínimos para adentrar no Sumo profissional (naquela época era necessário ter no mínimo 1,75m e 75kg). Quanto ao peso, fácil! Bastava comer um pouco mais... Mas e a altura? Tinha apenas 1,70m! Decidiu então tomar uma decisão drástica: Implantou uma prótese de silicone na cabeça.

Pois bem, apesar baixinho e magrinho (em toda sua carreira não conseguiu atingir os três dígitos), chegou ao Komusubi, derrotando adversários pesando quase o dobro de seu peso. Ganhou o "Ginousho" (prêmio de atleta mais técnico) cinco vezes!

Na verdade, acredito ser bastante oportuno falar deste lutador, para lembrar que o Sumo é um esporte absoluto, assim como qualquer outra arte marcial no Japão, ou seja, não há divisão por peso ou tamanho.

Nas artes marciais, aprendemos que o que faz uma pessoa forte, vencedora, não é o tamanho ou a força física, mas o encontro e a harmonia de três fatores: "SHIN", o coração, o sentimento, o estado de espírito; "Gi", a técnica; e "Tai", a força física.

É por isso, portanto, que surgem lutadores como Mainoumi, que por ser muito menor que seus adversários, melhoram a técnica e fortalecem o estado de espírito para vencer.

Seguem alguns bons vídeos:

MAINOUMI X MUSOUYAMA (AKI 1993) - Shitatenage

MAINOUMI X MUSOUYAMA (NAGOYA 1994) - Kirikaeshi

MAINOUMI X MUSASHIMARU (HARU 1992) - Sotogake

MAINOUMI X TAKANOHANA (NAGOYA 1994) - Kirikaeshi

MAINOUMI X KAIO (NATSU 1994) - Tottari

MAINOUMI X KITAKACHIDOKI - Hassoutobi no tachiai e Uchimuso

MAINOUMI X AKEBONO - Mitokorozeme

Abraços!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

GO IKEMORI

Bom... Sou cara de pau mesmo, tenho que admitir. Mas o texto está tão bem escrito e tão interessante que resolvi copiar na integra! Trata-se de uma reportagem escrita por Alexandre Sakai e publicada em seu blog (http://japao100.abril.com.br/blog_armazem/2008/05/05/luis-go-ikemori-o-primeiro-sekitori-brasileiro/)

Segue:

"Conta uma lenda shintoísta que há milhares de anos atrás houve um combate de sumô entre o deuses Take-mikazuchi e Take-minakata. A vitória de Take-mikazushi possibilitou que a tribo que ele defendia pudesse se estabelecer nas terras que a partir de então deram origem ao Japão.

Com uma origem tão mitológica o sumô tornou-se um esporte único que mistura competição com religião. Os torneios profissionais, que só são realizados no Japão, envolvem uma série de rituais e cerimônias antes dos combates e seus atletas seguem uma rígida norma de conduta dentro e fora da competição. No Japão, o sumô só perde em popularidade para o beisebol e, mais recentemente, também para o futebol.

No Brasil, os primeiros imigrantes japoneses já trouxeram com eles essa paixão pelo sumô, que era praticado nas colônias como uma forma de manter viva as tradições de seu país. Data de 1912 o registro do primeiro campeonato de sumô no país, que foi realizado na cidade de Guatapará, São Paulo. Mas com o passar dos anos a pratica do sumô foi ficando restrita à colônia japonesa enquanto outros esportes como o judô e o karatê ganharam popularidade entre os demais brasileiros. Mas esse quadro tem mudado e recentemente muitos não-descendentes também têm praticado sumô no Brasil, inclusive mulheres, algo que no Japão ainda é raro.

Luiz Go Ikemori começou no judô aos 7 anos de idade, incentivado pelo seu pai, Luiz Ikemori. O garoto demonstrou muito talento para o esporte. Cresceu, se tornou um jovem alto, forte e começou a se destacar em competições nacionais e internacionais. Tinha tudo para se tornar um grande atleta do judô, não fosse o destino guardar outros planos para ele.

Foi numa competição exclusiva para atletas nikkeis que Go ouviu falar sobre treinos de sumô em São Paulo. Ficou curioso em ver um treino desses de perto e juntamente com seu pai resolveu procurar o tal lugar. Não havia muitas informações na época. Seu Luiz acabou descobrindo sobre um senhor que poderia informá-los a respeito dos treinamentos. Disseram que ele vendia churrasquinho na feira da Liberdade mas que também atuava como árbitro de sumô. E lá foram eles encontrar o tal juiz. Ao saber que Go procurava a academia de sumô uma reação inusitada: o homem desmontou a barraca na hora, pegou suas coisas e os levou pessoalmente para o local de treinos.

O ginásio ficava no bairro do Bom Retiro, junto ao estádio de beisebol Mie Nishi. Por coincidência era dia de competição. Go, que só estava lá por curiosidade, acabou sendo convidado para participar do campeonato. Munido apenas de sua experiência como judoca, o jovem de 16 anos acabou surpreendendo e ficou com o 3º lugar na competição. A partir de então Go dedicaria a semana aos treinos de judô e o domingo seria dia de sumô.

A adaptação ao novo esporte foi fácil. As conquistas que ele conseguia no judô se repetiam no sumô. Ganhou diversos campeonatos regionais e nacionais, o que o levou a representar o Brasil no campeonato mundial de sumô amador em 1998, no Japão. Na disputa havia diversos competidores japoneses e representantes de países que possuiam colônias japonesas como Brasil, Paraguai, Argentina e Estados Unidos. Go não só ganhou de todos como também foi o primeiro estrangeiro a conquistar o título.

Não demorou para que surgissem convites para treinar no Japão. Uma delas foi da Universidade Takushoku Daigaku de Tóquio, conhecida por formar grandes atletas de karatê, que estaria oferecendo uma bolsa de estudos ao atleta. A princípio Go não tinha interesse pois já estava cursando engenharia em uma faculdade paulistana mas a oportunidade de ter um diploma numa universidade japonesa acabou falando mais alto e aceitou o convite.

Tinha como objetivo conquistar o campeonato universitário, se formar e voltar para o Brasil mas a adaptação ao modo de vida local não seria nada fácil. Não dominava o idioma japonês o que o obrigou a fazer um curso específico na universidade. E como era um curso a parte não poderia competir como universitário. Passou um ano com as aulas de japonês no período da manhã até às 4 horas da tarde, treinava das 4h30 às 7h30 e ainda tinha que ajudar na limpeza do ginásio. Basicamente só sobrava tempo para jantar, fazer os deveres de casa e dormir.

O dormitório em que ficou era exclusivo para os atletas de artes marciais e eram todos japoneses, só havia ele de estrangeiro. Mal conseguia se comunicar com eles e muito menos fazer amizade. Sentia saudades do Brasil, da família, da comida da mãe, dos amigos, mas a vontade de atingir seu objetivo era maior e aproveitava para se entregar aos treinamentos de corpo e alma. Hoje ele assume que nesse período cresceu não somente como atleta mas mentalmente e espiritualmente também.

Após concluir o curso de língua japonesa pode se matricular em um curso regular e também competir pela universidade. A primeira oportunidade foi o Campeonato Nacional de Calouros (Shinjin) que foi realizado em abril de 1990. O Templo Yasukuni em Tóquio foi o palco da competição e novamente se destacou por se tornar o primeiro estrangeiro a conquistar o título de campeão.

Go ainda teve diversos campeonatos ao longo do ano até chegar ao Campeonato Nacional Universitário (Zen Nippon) em dezembro. O lugar não poderia ser mais perfeito. Neste ano a competição seria também em Tóquio, mas no tradicional Ryogoku Kokugikan, o único ginásio no país construído especialmente para abrigar competições de sumô.

Cerca de 10 mil pessoas lotavam as arquibancadas do ginásio. Na competição havia atletas de todo o Japão, a maioria com muito mais experiência que Go, que ainda era primeiro anista na universidade. Mas o clima da competição não o assustava pois já estava acostumado a competir desde criança. Estava sim muito concentrado e só pensava nos combates.

No Brasil era madrugada quando Seu Luiz atendeu o telefone. Do outro lado da linha alguém muito eufórico falava em japonês. Era o técnico de Go, que dizia que tinha uma notícia muito séria para dar. Ao ouvir isso Seu Luiz até achou que algo ruim pudesse ter acontecido com seu filho, mas logo a situação foi esclarecida. Go havia ganhado o Campeonato Nacional Universitário. Foi uma alegria enorme para a família que depois dessa ligação também acabou acordando os amigos e parentes para espalhar a boa notícia. Muito mais que das outras vezes, a imprensa japonesa estava impressionada com a vitória inédita deste brasileiro pois se tratava de um competição muito importante e tradicional.

A princípio boa parte da missão de Go já estava cumprida. Era só esperar mais alguns anos para se formar e voltar para o Brasil. Mas a situação tinha mudado completamente. Depois da conquista do campeonato nacional o sumô acabou tomando grande importância em sua vida, da mesma forma que os estudos na faculdade perdiam completamente o sentido. No ano seguinte Go resolveu abandonar a faculdade e se profissionalizar no sumô. Em pouco tempo já estava morando e treinando em uma academia de sumô chamada Tamanoi Beya.

O sumô profissional é composto por cerca de 800 competidores divididos em 6 divisões: makuuchi, juryo, makushita, sandanme, jonidan e jonokuchi sendo que somente as duas primeiras divisões, makuuchi e juryo, formam a elite do sumô profissional, que conta com todas as honras e privilégios para seus integrantes. Esses lutadores são conhecidos como sekitoris.

Como todo iniciante Go teria que começar por baixo mas sua excelente atuação nas competições universitárias deram-lhe a oportunidade de começar numa divisão intermediária, a makushita, que ficava apenas um degrau abaixo da juryo. Mas isso não significava que se tornar um sekitori seria uma tarefa fácil.

Tamanoi Beya ainda era uma academia pequena e sem muita tradição. O treinamento não chegava a ser tão pesado como na universidade e existiam muitas técnicas novas que seu mestre tentava lhe passar. E além disso havia o fantasma das lesões.

Em um ano são realizados seis campeonatos: três em Tóquio e os outros três divididos entre Osaka, Nagoya e Fukuoka. Para um lutador subir ou descer no ranking depende totalmente do seu saldo de vitórias e derrotas. Portanto, no caso de uma lesão que impossibilite a participação do atleta nos campeonatos isso significa perder algumas posições no ranking e até mesmo cair de divisão. Por isso não são raras as vezes em que um lutador compete no sacrifício. Com o Go não foi diferente. Em sua carreira no sumô profissional ele teve diversas lesões, a mais grave no pescoço.

Superando as dificuldades, se passaram 3 a 4 anos de muita luta até que finalmente ele chegou a divisão juryo, a porta de entrada para a categoria de elite. No sumô profissional já não era novidade aparecer um estrangeiro nas primeiras divisões, mas Go era o primeiro brasileiro a chegar a esta posição. E como todos os sekitoris adotou um nome de guerra: Ryudo, que foi dado por um professor de teologia. A notícia repercutiu bastante no Brasil onde os fãs de sumo estavam orgulhosos por ter um conterrâneo sekitori.

A carreira de Go continuou tendo altos e baixos mas chegando no seu sétimo ano como profissional notou que algo não estava certo. Já não sentia mais aquela vontade de estraçalhar o adversário, aquele ódio por perder uma luta. Não era o corpo que estava cansado mas sim a mente. Em 1998 anunciou sua aposentadoria aos 30 anos de idade. Em novembro desse mesmo ano foi realizada a cerimônia do corte do seu cabelo, que simbolizava o seu abandono das competições profissionais.

Luiz Go Ikemori sabe que fez história ao se tornar o primeiro sekitori brasileiro, ainda mais sendo representante da maior colônia japonesa do mundo. Mesmo com saudades do Brasil, Go continua vivendo no Japão onde se casou e teve filhos. E apesar da distância sabe que tanto o judô quanto o sumô ajudaram a criar uma relação muito forte de amor, respeito e confiança com sua família, principalmente com seus irmãos Fábio e Cláudio, que se espelharam no irmão mais velho e também conquistaram muitos prêmios nos dois esportes, com destaque para o caçula Cláudio que foi campeão mundial de sumô amador na categoria peso-leve em 2002 e vice-campeão em 2004.

Até mesmo Seu Luiz se envolveu no esporte, mas como dirigente. Chegou a ocupar o cargo de presidente da Confederação Brasileira de Sumô, onde trabalhou muito para a divulgação do esporte. Aliás, é para o pai que Gô dedica toda a sua carreira como lutador pois foi ele o grande incentivador, patrocinador e torcedor. Para o ex-lutador, todas as medalhas, prêmios e troféus não significaram nada comparados ao sentimento de realização ao ver a cara de alegria e satisfação do pai a cada conquista sua."

[Em 1992 em Nagoya, da esquerda para direita: os lutadores Go Ikemori, Tetsuya Takeda, Giuliano Tusato, e Yoshinobu Kuroda. Não poderia esquecer dos baixinhos entre eles: Shousuke Onishi e eu]

terça-feira, 6 de maio de 2008

SUMO NO MUNDO ESTRANHO


Espero que seja ainda em tempo!

É que saiu na revista "MUNDO ESTRANHO" do mês de abril, uma matéria bastante interessante sobre Sumo.

Tiago Jokura, fez uma pesquisa bastante legal, consultando a mim e ao Yoshinobu Kuroda.

Seguem os links para se ter uma prévia:
Abraços!!!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

TREINOS NO BOM RETIRO

PESSOAL!

OS TREINOS NO BOM RETIRO ESTÃO ACONTECENDO EXCEPCIONALMENTE NO ENDEREÇO: RUA ANHAIA, 1239 - BOM RETIRO (CLUBE NACIONAL). O HORÁRIO É O MESMO, OU SEJA, DOMINGOS ÀS 9h30min.

SEGUE UM LINK COM UM MAPA QUE PODE AJUDAR:

http://maplink.uol.com.br/v2/mapa.aspx?t=add&lat=-23.5192319491525&lng=-46.6477040677966&str=R.%20Anhaia&nb=1239&dt=Bom%20Retiro&zip=01130-000&ct=S%E3o%20Paulo&st=SP&z=15

É que o estádio do Bom Retiro será demolido, mas em alguns meses, um novo ginásio será inaugurado no mesmo endereço.

Até mais.