Campeonatos de sumô “explicam” a modalidade no país
Modalidade é praticada majoritariamente por “não-japoneses” no país; Brasil sagrou-se campeão sul-americano na maioria das categorias.
Sumô, a modalidade. Sumotori, o nome dado ao atleta que a pratica. Dohyo, o ringue de terra em que acontecem as lutas. Todos os termos, o clima e o local estavam tomados pelo espírito da cultura nipônico. No entanto, a maioria dos atletas ocupando os espaços nas arquibancadas e na área de lutadores não possuía a característica (e esperada) fisionomia dos orientais nascidos no Japão, pátria local em que o sumô nasceu há alguns séculos atrás. “O sumô em São Paulo tem 90% de praticantes ‘ocidentais’ (não-japoneses ou não descendentes-de-japoneses)”, explica Olívio Sawasato, diretor do Conjunto Esportivo Cultural Brasil-Japão. “No entanto, 100% dos dirigentes são japoneses, uma forma de manter a tradição e os padrões”, explica.
Olívio dirige o local que recebeu mais de 300 garotos, garotas, homens e mulheres de todas as idades e de vários estados do Brasil para a disputa do 51º Campeonato Brasileiro de Sumô, organizado em parceria pela Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação de São Paulo, Federação Paulista de Sumô e Confederação Brasileira de Sumô.
Rodrigo de Azevedo Lopes, 22 anos, começou no sumô com 13, influenciado por um amigo filho de orientais (este parece ser o motivo para a maioria) e era mais um dos “não-japoneses” do local. Ele e outros nove atletas do Pará, percorrem os quase três mil quilômetros que separam Belém da capital paulistana para participar do campeonato no bairro do Bom Retiro. É lá que fica o complexo esportivo que abriga o Ginásio de Sumô, único deste tipo não localizado no Japão, terra natal da modalidade. O local passou por uma reforma completa há menos de dois anos. “Eu já participo de competições desde 2006 aqui no ginásio, mas esta última reforma melhorou bastante a estrutura, principalmente os banheiros e as arquibancadas”, avalia Rodrigo.
Além dos mais diversos “tipos” e fisionomias de brasileiros, o local também recebeu visitas internacionais. Sumotoris da Venezuela, Paraguai e Argentina também visitaram o país para a disputa do 17º Campeonato Sul-Americano de Sumô, que aconteceu no mesmo final de semana. As venezuelanas Ofelia Barrios e Yaseny Castillo assistiam às lutas dos brasileiros, aparentemente impressionadas com o que viam. Faz apenas três meses que ambas começaram a praticar sumô em Maracay, pequenino povoado na região central do país. “Nós estamos aqui também para aprender. Não temos nada parecido com isso na Venezuela e praticamos há pouco tempo. E o Brasil tem muito mais japoneses. Mesmo que eles não pratiquem, isso influencia o jeito de fazer sumô e possibilita espaços como este”, avalia Ofelia, rosto meio caboclo, meio indígena. Nenhum pouco japonesa.
Outra impressão de quem visita um evento de sumô pela primeira vez é de que vai encontrar dificuldades para entender as regras e a dinâmica. Ledo engano. O esporte tem uma regra maior e simples: aplicar o oshidashi, golpe em que o lutador empurra o oponente para fora da arena. Ainda que existam outras regras e golpes, esta é a principal percepção e normalmente uma facilidade de assimilação que acaba atraindo mais praticantes. “O sumo é um esporte muito simples de entender. Talvez por isso atraia muito mais brasileiros do que o beisebol, por exemplo, que é cheio de regras e difícil de interpretar”, explica Olívio.
“O sumô é um esporte mais praticado por tradição, então é natural que ele nasça influenciado por colônias”, explica Cláudia Moura, diretora técnica da SEEL (Secretaria Estadual de Esporte e Lazer) do Pará. “Em nosso Estado, por exemplo, existem praticantes de Santa Isabel do Pará e Tomé-Açú, cidades em que a presença japonesa é grande”, completa.
Antes de ir embora, uma passadinha rápida no Estádio de Beisebol Mie Nishi, outro espaço que compõe o Conjunto. Lá, a história é diferente. Não se encontram “ocidentais” por lá e é possível até ouvir conversas no idioma japonês. Parece que as teorias de Olívio estavam corretas.
Brasil é o melhor da América do Sul
Os brasileiros Namerson Tibúrcio, na categoria leve, Ricardo Aoyama, na categoria médio e Mário Frabetti, na categoria Absoluto sagraram-se os melhores lutadores da América do Sul na disputa do último final de semana. O Brasil só foi superado na categoria Pesado, em que o argentino Juan Castro ficou à frente dos brasileiros Sérgio Gomes e Takahiro Higuchi. Na pontuação geral, o Brasil ficou com 46 pontos, muito à frente da Argentina, segunda colocada com 13 pontos. A Venezuela atingiu 5 e o Paraguai 4 pontos, respectivamente.
Na disputa feminina, o Brasil foi campeão graças ao acumulo de pontos individuais. Foram 31 contra 26 da vice-campeão Venezuela. Nas disputas diretas, por entanto, a vantagem ficou com os nossos vizinhos de Caracas. Ofelia Barros, categoria médio, Maria Cedeño, nas categorias pesado e absoluto, venceram suas lutas e são as melhores da América do Sul. O Brasil só se deu bem na categoria leve, com a vitória de Luciana Watanabe.